segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Eternidade

Alice, por que te prendem nessa torre?
Por que te escondem do mundo?
Por que te privam da liberdade?

Por detrás desses muros,
Do ângulo da tua janela,
Ouves o eco das ruas, das cidades e dos quartos,
Contemplas o brilho das estrelas,
Bebes a luz da noite,
Sentes o perfume da tília e do jasmim.

Dói essa solidão que te invade,
Magoa essa sensação de impotência,
Corrói essa efemeridade do tempo,
Destrói essa incapacidade de amar.

Tentas adivinhar o mistério que a Noite encerra,
Escutas os passos do silêncio,
Pensas na suavidade do tempo que não volta, que não passa...
A tua alma parte-se em pedaços.

Tens um manto real de negras trevas.
E dentro da alma a luz de todo o mundo.

O destino uniu o meu olhar à tua dor.

Eternas?
Sê-lo-emos por toda a Eternidade.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Rainha Nada


Onde está a tua coroa, Rainha Nada?
Tu que pensaste edificar castelos,
Que tomaste como garantido o céu,
Que subestimaste o poder dos deuses?

Onde deixaste a tua coroa, Rainha Nada?
Perseguiste e torturaste.
Espalhaste o luto,
Reduziste-me a cinza,
Voei com o vento.

Quem te deu a coroa, Rainha Nada?
De onde veio todo o poder que julgas possuir?
Do infortúnio daqueles que consideras mais fracos?
Das loucuras que cometeste para teres um trono?

Que poder é esse, Rainha Nada?
Será isso que realmente deténs? Poder?
Olha a tua volta!
Que vês?
O amor que tão incessantemente cobiçaste?

Terás coração, Rainha Nada?
Ou tudo o que te reveste são espinhos?
Deliciaste com o acre prazer da maldade,
Tornas negros mesmo os dias mais vazios,
Espalhas o fel da iniquidade.

Em que espelho deixaste perdida a tua face, Rainha Nada?
Pensas que possuis o mundo?
Que conquistaste o teu lugar na Terra?
Que conseguiste destruir-me?

Tudo o que fizeste foi apenas ligeiros cortes.
Voltei inteira.

Fortaleceste-me,
Ensinaste-me que a queda não é o destino dos fracos,
Mas a triunfo dos guerreiros.

Ainda pensas que é poder aquilo que possuis?
Não te reduziste a ti própria ao vazio?
Onde está realmente a tua coroa?

Concedeste a ti própria um poder superior,
Poder esse que julgavas existir.
Vês agora que o teu esforço foi em vão?
Que as pessoas que nos amam incondicionalmente não desistem de nós,
Mesmo que lhes ofereçam todas as magnificências do mundo?

Grande é aquele que cai e que, no momento seguinte, se levanta,
Aquele que ergue a cabeça, mesmo que tudo o faça olhar para baixo.
Grandioso é aquele que supera qualquer adversidade,
Que se agarra às recordações felizes para continuar o seu caminho,
Que luta pelas suas utopias,
Que ambiciona quimeras,
Que aspira a um ideal que é superior apenas porque é movido pela força do coração.

Rainha Nada!
Carregas um mar de dúvidas,
Mergulhas no vazio da incerteza
E morrerás sabendo que tudo o que conseguiste foi a cinza dos teus pecados.

Não é uma coroa que possuis!
Mas sim o peso da cruz que tu própria erigiste.

domingo, 11 de maio de 2008

Mortificação

Encontra-me.
Enlaça-me.
Aperta-me.
Quebra-me.
Estilhaça-me.

Reinventa-me.
Esculpe-me.
Cinzela-me.
Forja-me.
Liberta-me.

Tenta-me.
Possui-me.
Consome-me.
Corrói-me.
Apaga-me!

Agora que sou apenas cinza...
O que te resta?
O vazio de uma vida cheia de nada.