segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Canções cheias de sol


Da Califórnia para o MySpace. Do MySpace para o mundo. Colbie Caillat acaba de editar o segundo disco, e voltou aos tops.

Da sua voz já disseram que parece «mel doce a escorrer sobre rochas». A suavidade das canções da norte-americana Colbie Caillat, 24 anos, faz-nos viajar até à praia de Malibu, Califórnia, sua morada de infâcia. Com os seus olhos verdes e cintilantes, cresceu aí rodeada de acordes, palavras e músicos. Aos 11 anos, ouviu Killing Me Softly, na voz de Lauryn Hill, momento que marcaria a sua vida e determinaria a sua carreira. «Fez-me querer começar a cantar», conta à VISÃO. Aos 19 anos, recebeu aquela que se tornou fiel companheira e confidente: uma guitarra acústica. «Quando aprendi a tocar e comecei a escrever as letras das minhas canções, percebi que queria mesmo ser cantora, letrista e fazer disto a minha carreira.»

O poder de uma canção
Caillat começou a ter sucesso com a força do MySpace. A canção Bubbly tornou-se um fenómeno. «Quando Bubbly apareceu, o número de visitas disparou. E de repente tinha um contrato com uma editora», recorda. E atribui o êxito da faixa «à simplicidade da letra e melodia; é uma música com a qual as pessoas se relacionam sempre, de alguma forma». E recorda, a sorrir, as estórias que os fãs lhe contam: «Dizem-me que Bubbly é a música ao som da qual se apaixonaram, ou confessam-me que queriam terminar as suas relações, para encontrarem uma pessoa que despertasse os verdadeiros sentimentos de amor...»
Em 2007, assinou pela Universal, que lhe deu total liberdade criativa. «Uma das vantagens do MySpace é que podemos construir um exército de fãs e, depois, quando chegamos a uma editora, não há forma de alterarem o nosso trabalho, porque já foi testado, experimentado e dado a conhecer.» O ábum Coco (título inspirado numa alcunha de infância que pegou) marcou a sua estreia, logo nesse ano – aparentemente sem nenhum empurrãozinho do pai, Ken Caillat, co-produtor dos álbuns Rumours e Task, dos também californianos Fleetwood Mac. O seu som tanto fazia pensar em vozes femininas como Dido e Norah Jones, como no estilo acústico e descontraído de Jack Johnson.
Breakthrough, já disponível, é o novo disco, mas foi pensado «à antiga»: «Não gosto de ter de trocar de disco só porque não gosto de uma determinada música. O meu desejo é que os meus fãs sejam capazes de ouvir os meus discos do princípio ao fim», declara. Mas Colbie quis que Breakthrough fosse um claro afastamento de Coco. «Cresci enquanto pessoa e artista. E trabalhar com diferentes letristas e gravar com diferentes produtores abriu a minha mente e permitiu-me trazer novos sons para a minha música.» Com o novo disco pretende «ultrapassar medos para estar aberta a novos caminhos e experiências». Como? Com «uma montanha-russa de emoções»: «Há canções mais rápidas, divertidas, alegres, simples e outras lentas, tristes e melancólicas...» O objectivo, afinal, era gravar um ábum que mostrasse «a vida como ela é». A seguir, Colbie «gostava de ser a rapariga no meio de um grupo de hip hop», numa colaboração «com Common, Pharrell Williams ou Akon...» Para provar que não é só mais uma menina bonita com uma voz doce?

domingo, 11 de outubro de 2009

Recolher Obrigatório

A moda dos vampiros chegou à literatura portuguesa. Páginas para ler, com os sentidos alertas, antes do anoitecer.

O conde Drácula há muito que deixou o seu tenebroso castelo, na Transilvânia. O seu exército de servos imortais irrompeu da escuridão, cresceu e povoou as ruas, em plena luz do dia. Eles estão entre nós, à espreita, ávidos de sangue e de novas vítimas. Prepare-se para a dentada letal dos... livros. Os vampiros são a grande tendência deste Outono. Estão na moda, fincaram os dentes na literatura e não têm a intenção de ir embora tão cedo. Se quisermos atribuir responsabilidades a alguém por esta epidemia, Stephenie Meyer será, certamente, o nome inevitável. A tetralogia Luz e Escuridão é um caso de sucesso e ameaça tirar o trono à lucrativa saga de J.K. Rowling. Mas as páginas sobre esta criatura das sombras são já um velho clássico. Existem tantas versões da lenda quanto usos do conceito. Bram Stoker e Anne Rice fizeram nascer Drácula e Lestat de Lioncourt, vampiros que conseguiram levar para o cinema o sangue que primeiro espalharam nas páginas dos livros. Como seria de esperar, a febre dos livros de caninos afiados chegou a Portugal.

Mitos ou realidade?
A Editorial Presença traz para a luz um amante do gótico e do ultraromântico: Rafael Loureiro. Memórias de Um Vampiro é o primeiro volume de uma trilogia. Desengane-se quem pensa que esta é mais uma obra ao estilo vampiro-light, de Meyer. «Não é apenas mais uma história de vampiros, mas uma procura de ideais que se vão perdendo: a honra, a justiça e o amor eterno, que são transversais à vida», reconhece o autor.
A escrita de Rafael foi sempre pincelada pela literatura gótica e pelo cinema noir – Anne Rice, Bram Stoker, Edgar Allan Poe, Soares de Passos são as suas referências literárias, Drácula, de Coppola, e Nosferatu, de Murnau, as cinematográficas. «A minha mãe deixava-me ver filmes de vampiros e lobisomens. Cresci com essa paixão pelo terror, até mais tarde descobrir o seu lado romântico». Rafael Loureiro renasceu, envergou vestes negras e passou a coexistir com Daimon DelMoona, seu alter-ego. «Todos temos os nossos segredos, as nossas paixões e esta personagem alude à nossa faceta que vive na sombra». As primeiras linhas de Memórias de Um Vampiro surgiram em meados de 2000. As últimas dali a quatro anos.
DelMoona prova que os vampiros também sofrem e se debatem com problemas morais. O protagonista da saga é tomado pelo desespero, após a morte prematura da noiva. Até que uma criatura da noite lhe concede a possibilidade de renascer como imortal. Memórias de um Vampiro conduz o leitor numa viagem de intriga, aventura e romance com início no século XVII e desfecho no novo milénio. Pelos olhos de DelMoona, ficamos a conhecer várias descendências de vampiros e uma hierarquia rígida, que se articula nas sombras das sociedades quotidianas. Começa, assim, uma odisseia que atravessa os séculos e que culmina num confronto com um vampiro sedento de poder. Pelo meio, o vampiro volta a descobrir o amor. Para sempre?
O vampiro – que já tem uma legião de fãs, identificada com o universo gótico na Internet – voou, qual morcego, para o formato livro, no dia 15 de Setembro. Circulara antes em duas edições de autor, de mão em mão. Não satisfeito com apenas um volume, Rafael Loureiro trabalhou nas sequelas da trilogia Nocturnus: Ascensão de Arcana e A Redenção. «O objectivo deste universo vampírico é poder dar ao leitor uma noção de fantástico, mas de um fantástico que pode ser real», explica. E acrescenta: «Existe uma personagem fantástica dentro de cada um de nós. Algumas pessoas levam mais tempo a encontrá-la do que outras».

Vampiro: o Mascarado
O sangue não pára de escorrer. A 29 de Outubro, a Porto Editora lança Contos de Vampiros. Depois de ter organizado uma colectânea de histórias policiais, o poeta e professor de escrita criativa Pedro Sena-Lino vira-se agora para a literatura vampiresca. A antologia reúne nove textos da autoria de José Eduardo Agualusa, Miguel Esteves Cardoso, Rui Zink, Ana Paula Tavares, Hélia Correia, João Tordo, Gonçalo M. Tavares, Jorge Reis-Sá e Susana Cabaço.
São várias as geografias, cronologias e visões que se jogam neste volume. «Há uma grande diversidade na representação da figura do vampiro», esclarece Pedro Sena-Lino. Um dos narradores improváveis é Rui Zink que, em O Monstro, reflecte sobre o bem e o mal, os homens e as mulheres, a batalha entre humanos e vampiros.
Explorar o capital simbólico do vampiro foi o motivo que levou a editora a trazer para a literatura nacional um registo de ficção pouco trabalhado em Portugal. «Um vampiro é um puzzle de muitos sangues e desfila num interminável baile de máscaras», desvela o coordenador.
Mesmo que persista o medo de perder a identidade para esta criatura que vagueia na noite, à procura da próxima vítima, ela continuará a fascinar gerações. «Ainda que regressem aos caloboços da literatura por algumas décadas», remata Sena-Lino, «deixarão um enorme rasto entre os leitores». Os vampiros vieram para ficar.